Um brinde à saúde.

Estudo brasileiro comprova que a ingestão moderada de vinho tinto faz bem à saúde.

Ao erguer as taças de vinho e brindar, a tradição manda que todos os presentes digam “saúde!”. Além de ser uma promessa relacionada à qualidade da bebida, a exclamação também indica o desejo de que o líquido traga benefícios para o corpo de quem o consome. E, mais do que um simples costume, pesquisas científicas já comprovam que o vinho faz bem a quem o consome com moderação.

É expressivo o número de evidências em relação às propriedades benéficas do vinho tinto para a saúde humana, particularmente para o sistema cardiovascular. No Brasil, um estudo do cardiologista Protásio Lemos da Luz, professor titular de Cardiologia e pesquisador do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor), aponta que o vinho traz grandes benefícios à saúde cardiovascular. Há mais de dez anos, o pesquisador se interessou pela chamada “teoria oxidativa”, ou seja, pelo processo de oxidação de lipoproteínas como o LDL (colesterol ruim), que podem causar aterosclerose quando acumuladas nas paredes das artérias. “Eu queria entender se esse processo ocorria in vivo, além dos animais de experimentação, e buscava drogas antioxidantes. Verifiquei na literatura médica que os componentes do vinho tinto tinham um efeito antioxidante importante e, na realidade, mais intenso do que o da vitamina E, o mais natural e fácil de utilizar”, explica.

O “paradoxo francês” também foi alvo de pesquisa de Luz. O estudo, feito há mais de duas décadas, revelou que o consumo de vinho tinto era um dos motivos dos baixos índices de doenças das artérias coronárias nos franceses, mesmo com uma dieta rica em manteiga, creme de leite, queijo e carne. Para comprovar a teoria, o pesquisador fez testes em três grupos de coelhos. Para um dos grupos, foi utilizada uma dieta rica em gordura, que induz a aterosclerose. Em outro, foi usada a mesma dieta com o vinho tinto misturado na água. Para o terceiro grupo, foi dado o vinho sem álcool para saber se o efeito se devia ao álcool ou a outros fatores.

“Observamos que os animais que ingeriram vinho tiveram uma grande redução na formação de placa aterosclerótica na aorta em comparação aos animais que só receberam a dieta. Já os que receberam vinho sem álcool também tiveram redução na formação de placas, mas o efeito maior foi com o vinho normal.”

Vinho ou suco de uva?
O passo seguinte foi realizar a pesquisa com pessoas. Foi formado um grupo de jovens que tinha o colesterol alto como único problema de saúde, sem hipertensão, diabetes ou tabagismo. Durante 15 dias eles receberam, alternadamente, 250 ml de vinho tinto e suco de uva. “Tanto o vinho quanto o suco de uva aumentaram a capacidade de dilatação da artéria braquial do braço. Um resultado importante, pois o sangue precisa de vasos dilatados para circular.”

Com a comprovação dos benefícios do vinho no sistema cardiovascular, Luz e sua equipe decidiram dar um passo além e estudar os efeitos da bebida no processo de envelhecimento. Para isso, fizeram um estudo com ratos. “Os ratos que tomaram o vinho não tiveram uma sobrevida diferente daqueles que não o ingeriram. No entanto, a capacidade aeróbica aumentou, ou seja, eles eram capazes de fazer mais exercícios e de percorrer uma distância maior.” Além disso, foram observados outros fatores, como a redução da proteína P53. “Ela impede a proliferação celular. Quando bloqueada, facilita a capacidade de replicação das células. Isso é visto como um elemento antienvelhecimento”, explica o pesquisador.

Outro aspecto avaliado foi o tamanho do telômero – estrutura que fica nas extremidades dos cromossomos – e da telomerase – a enzima que o regula. “Durante o envelhecimento, o tamanho dos telômeros diminui. Entre os ratos que ingeriram vinho, percebemos que esta estrutura se preservou”, diz Luz.

Origem dos benefícios
Tudo sugere que os polifenóis, substâncias antioxidantes, são os responsáveis por tantos benefícios. Eles facilitam a dilatação das artérias, evitam o processo de proliferação das placas de gordura e têm efeito antiplaquetário. “As plaquetas são células que impedem a hemorragia, mas, por outro lado, podem levar à obstrução dos vasos. É o que acontece, por exemplo, no infarto do miocárdio, quando há obstrução da artéria coronária causada por um trombo que é, em grande parte, plaquetário”, diz o pesquisador. “Uma droga antiplaquetária, como a aspirina, diminui a probabilidade do sangue coagular. O vinho também ajuda nesse processo”, diz.

Dose certa
Para ser benéfico, o limite para o consumo de vinho tinto é de duas taças por dia – aproximadamente 30 gramas de álcool. “Estudos mostram que, quando o consumo é maior que esse limite, há aumento nas taxas de mortalidade”, afirma o pesquisador. Segundo ele, ao analisar os índices de mortalidade de grandes grupos de pessoas, é possível comprovar que os indivíduos abstêmios têm uma mortalidade cardiovascular e global maior do que aqueles que tomam uma quantidade moderada de bebida alcoólica, em especial o vinho. “Por outro lado, ao beber mais do que o limite indicado, a mortalidade aumenta e há maior probabilidade de se desenvolver doenças como o câncer, sobretudo do sistema digestivo”, alerta Luz.

Vale lembrar que também há pessoas que não devem ingerir bebidas alcoólicas sem liberação médica. É o caso de quem tem arritmia ou insuficiência cardíaca, doenças do fígado, diabetes e triglicérides altos.

Mas se você está bem de saúde e quer aproveitar os benefícios do vinho tinto, aproveite: uma taça no almoço e outra no jantar podem trazer mais alegria e saúde à mesa.

Fonte: Revista Fleury

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